domingo, 31 de maio de 2009

Eles são jovens...

Os olhos da menina se fecham e assim permanecem e ela, mãos no queixo ,permanece ouvindo a mesma ladainha dos números sendo cantados. O rapaz começa a encurvar-se sobre si mesmo e a sensação ao vê-lo buscando aquela espécie de auto-implosão é de que teria sido um erro a presença tão esperançosa de duas esperanças sorridentes: um menino e uma menina, no conselho de classe.
Mas de repente as feições tomam corpo de uma súbita explosão e por trás daqueles músculos que tentam permanecer inalterados, um pequeno desenho começa a se configurar por sob ambas as aparências. É que ali moram ainda a ousadia insuportável daqueles que não padeceram da picada e tampouco conhecem o sabor do veneno. E pois, em meio ao cheiro acre do suor de cansaço e desprezo ronda entre eles o perfume que o bolor das gavetas fez esquecer. Eu sinto então o cheiro da goiaba, terra molhada, o cheiro das manhãs com seus cafés agora passados sem pressa.

Eu escuto então de onde vem a salvação. Diz a menina:

- Eles não podem fazer nada !? Mas nós podemos...Nós somos jovens!

As minhas costas doem nesse dia e embora eu mesmo já não seja tão jovem assim eu pelo menos ouço a canção.

Fabiano Ramos Torres In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"

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