Fabiano Ramos Torres. In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."
domingo, 31 de maio de 2009
Por detrás das grades...
Fabiano Ramos Torres. In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."
Cabrestos
Fabiano Ramos Torres In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."
Uma justificativa - ou tentativa de diálogo?
"Eu T. O. me retirei da sala de aula do professor Fabiano de Filosofia porque não estava entendendo absolutamente nada do que ele estava falando, a aula estava chata e irritante, considero-me extremamente estúpida por não apreciar essa aula.
Pretendo ficar nas próximas aulas em sala de aula, se a aula estiver “legal” e se eu estiver entendendo algo, caso contrário irei me retirar a cada vez mais de suas aulas."
T.O.
A Prisão da Mente - Vinícius A. Carniato.
"Talvez eu fale de um mundo que vocês nunca verão, podem até me chamar de louco, pois isso é o que acam as pessoas que não sabem a verdade, é um mundo que está diante de seus olhos, mas tal ocupação e acomodação dessa vidina os impossibilitaram de ver essa prisão maquiada em que vivem, onde vocês são engrenagens de um sistema que trabalham por comando de um só, que pode fazer o que quiser com as engrenagens e o sistema, bom, quem sou eu? Eu sou mais uma ferrugem desse sistema!
Eu nem sempre fui assim, antes eu era só mais um nesse sistema e hoje eu vejo como fui e como vocês estão sendo explorados, é como ver uma prisão do lado de fora. Vocês se acham livres? O que é ser livre? É você ir pra outro país e precisar de um visto para não ser deportado? É você trabalar a vida toda para pagar o almoço deles, viagem, carro uma mansão talvez, quem sabe usaram seu dinheiro, você pagou eles em forma de impostos, desde que vocês nascem estão sjeitos a obedecer o sistema que é uma prisão para sua mente e te ocupa de tal forma que você não tem tempo para pensar, e sabe o que eles querem? Querem te moldar para você ser como qualquer um cidadão, que já assumiu o papel de servo e caso você não obedeça será recriado para aprender o sistema.
Quando meu professor “Neo” fez eu despertar, o que não foi fácil, pois eu era daquelas pessoas que fugia da verdade, eu queria a “paz”, mas agora eu perturbo a sua “paz”, então meu professor me disse que a minha prisão ea diferente, era como uma caverna escura e eu dentro dela de costas para a luz da saída e também que eu vivo no mundo de Matrix que é esse mundo de ilusões onde vocês vivem, é o mundo que foi colocado diante de seus olhos para que voe não enxergasse a verdade.
Logo após ele ter dito isso, resolvi me virar e “sair” daquele lugar, e fiquei espantado com a verdade que os rodeia todos os dias e me senti como uma mosca saindo da garrafa. Logo após sair Neo veio até mim e sorrindo disse o seguinte: “ Admirável mundo novo”, pois o mundo em que você vivia era repleto de ilusões e esse aqui é a pura verdade, naquele mundo você daria voltas e voltas sem sair do lugar e poderia passar a vida toda pensando que estava vivendo, mas agora cortamos a lina que te controlava, você era um marionete Vinicius, mas meu professor quis destacar uma coisa, pois é claro que meu professor é um filósofo, ele disse então: Vinícius, Filosofar é despertar para ver e mudar o mundo.” E eu nunca me esquecerei disso.
E hoje nossa função é tentar libertar e mostrar o nosso mundo pra vocês.”
Dureza das pedras...
Fabiano Ramos Torres. In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"
Eles são jovens...
Mas de repente as feições tomam corpo de uma súbita explosão e por trás daqueles músculos que tentam permanecer inalterados, um pequeno desenho começa a se configurar por sob ambas as aparências. É que ali moram ainda a ousadia insuportável daqueles que não padeceram da picada e tampouco conhecem o sabor do veneno. E pois, em meio ao cheiro acre do suor de cansaço e desprezo ronda entre eles o perfume que o bolor das gavetas fez esquecer. Eu sinto então o cheiro da goiaba, terra molhada, o cheiro das manhãs com seus cafés agora passados sem pressa.
Eu escuto então de onde vem a salvação. Diz a menina:
- Eles não podem fazer nada !? Mas nós podemos...Nós somos jovens!
As minhas costas doem nesse dia e embora eu mesmo já não seja tão jovem assim eu pelo menos ouço a canção.
Fabiano Ramos Torres In " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"
São Paulo, Maio de 2006. Uma noite de Insônia.
Como educador eu não podia deixar aquilo registrado sem tomar uma decisão, ainda que me custasse o sacrifício de uma aula, eu ganharia algo se fizesse com que meus alunos percebessem o significado absurdo de uma suástica. E seria melhor ainda se eles percebessem que é ainda maior absurdo desenhar uma suástica sem saber o que ela significa.
Aula de Filosofia: desvelar, desvendar, investigar, descobrir...O objetivo então era mostrar que a Filosofia era o contrário da Ideologia. Creio que consegui conduzir a aula, parece que os alunos tinham uma certa curiosidade em saber mais sobre as ideologias políticas.
Dias depois exibi o filme “Ilha das Flores”. E o que eu pretendi com isso? Ah! Isso é simples: O título e o conteúdo são antitéticos. Os alunos vão perceber que entre um e outro há uma contradição.
Na verdade os alunos já haviam assistido ao filme e quando retornei para junto deles, na sala de vídeo, percebi um clima de indignação por parte de alguns alunos. Mas a indignação dizia respeito a atitude da cultura escolar: “Discutir, discutir, discutir... a gente poderia fazer alguma coisa pra mudar ao invés de só discutir...”
Fiquei estupefato. No momento me vinha à cabeça um das competências que os educadores querem ver desenvolvidas nos alunos, a saber, que este aluno possa utilizar-se dos conhecimentos adquiridos na escola para construir projetos de intervenção social.
Ora, deste modo, assistir ao filme “Ilha das Flores” teve um efeito muito positivo: os alunos sentiram necessidade de partir para a ação. Isso nos anima pois assim temos a certeza de que o trabalho do professor é algo que se espalha para além dos muros da escola...e é isso que eu penso como educador: proporcionar conhecimento para vida, reconectar pensamento, vida e obra...
No momento em que escrevo este texto tenho nas mãos uma folha de caderno. Nesta folha há o nome de um aluno e um título: “O Cubo do Pensamento”. O aluno é Rodrigo Rafael. O texto diz o seguinte:
“Podemos dizer que o cubo tem muitas cores e cada cor pode ser o pensamento de uma pessoa; se cada pessoa concorda com a outra elas chegam em um entendimento. Assim as cores do cubo podem ser montadas mas não completo porque nunca ninguém concorda com tudo que todos dizem”.
Ouço também a aluna Agnes problematizar ainda mais: “ Mas...o cubo não vem montado? Porque é que nós o desmontamos?”
Chegam à uma resposta provisória: que nossas aulas são como um cubo mágico, cubo da vida, do pensamento...sei lá, um jogo que a gente aprende a jogar conforme se vai jogando. Como o cubo mágico: a gente aprende a montá-lo em meio a tentativas e erros. E o mais interessante é que por mais que pessoas já tenham montado o cubo, não há como ensinar a montá-lo a não ser pedindo que o montador-aprendiz monte seu próprio caminho. Para isso é necessário paciência e um certo gosto por desafios...
Filosofia: logo no primeiro mês, lembro-me da Mariany dizendo que não tinha como responder o que é Filosofia sem filosofar porque a pergunta “o que é Filosofia” já nos obrigava justamente a filosofar.
E o Bruno: estudamos Filosofia para não dormir...Foi uma feliz brincadeira pois ele nem imaginava que o filósofo Merleau-Ponty disse que “filosofar é despertar para ver e mudar o mundo.” Ele também não imagina que Kant, o filósofo alemão, dizia que as idéias de um outro filósofo o haviam despertado do sono...
Meus alunos do 1° A...o que eles escreveriam se tivessem de relatar o que aprenderam? Será que cada um deles seria capaz de auto-avaliar o seu próprio processo de aprendizagem? Será que eles poderiam apontar os aspectos mais importantes desse bimestre?
Estou preocupado e cansado, são 1:38 da manhã. O material de Filosofia parece pouco, mas pensando bem até que o pouco dá pra começar, afinal eu me esqueci dos filmes sobre o Oráculo de Delfos e sobre Pitágoras...bem, temos ainda dois slides nos computadores. Informações temos bastante, talvez ele possam responder qual a diferença entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico. Ou quem sabe apontem as condições históricas que motivaram o surgimento da Filosofia. Alguma coisa é possível: pelo menos a importância do diálogo eles devem ter percebido...ágora e dialética são inseparáveis. O que será que eles acham dessa informação?
Ah! Chega, 1:46, vou dormir...amanhã as aulas serão melhor do que nunca..."
Fabiano Ramos Torres in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"
Esta foi a proposta de uma avaliação de final de bimestre. Li este texto na aula, estávamos na sala de informática, formávamos um grande círculo. Após a leitura, os alunos exploriam em palmas e vivas! O retorno foi incrível. Muitos textos belos. Foi meu primeiro ano como professor e eu estava mergulhado até a alma nas concepções de Paulo Freire. Eu aprendi muito nesse ano, foi realmente um grande ano em minha vida!
Maiêutica
Amor Fati: após a dor do parto, a dor do apartar.
Fabiano Ramos Torres in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"
Luis
Fabiano Ramos Torres. in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar."
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Fabiano Ramos Torres in " Diários, notas e provas bimestrais - crônicas do cotidiano escolar"
domingo, 24 de maio de 2009
Professor Escocês visita Itaquera
Em Junho o Coletivo Fórum Nômade de Educação e Arte irá recepecnionar o professor Terry Wrigley da Faculdade de Educação de Edimburgo. O pesquisador vem ao Brasil em viagem de pesquisa, a convite do Cecip. Na ocasião, o objetivo do professor " é conhecer , em duas semanas, um pouco sobre a diversidade de práticas pedagógicas brasileiras para promover a a aprendizagem de crianças, jovens e adultos ( Educação Básica) - e pensar a possibilidade de futuras parcerias ." Comenta Madza Ednir, consultora do Cecip.
O Coletivo "Fórum Nômade" vai receber o pesquisador e acompanhá-lo até a E.E Profª " Ruth Cabral Troncarelli" onde conhecerá as instalações da escola bem como será convidado a participar das aulas ministradas na ocasião. A seguir, o Coletivo " Fórum Nômade" juntamente com os convidados irão, em caminhada, até o "Céu Jambeiro", distante 2km da Escola Estadual. A caminhada tem por objetivo percorrer as ruas do entorno das escolas enfatizando as temáticas abordadas nos debates do Fórum Nômade, a saber, o ubarnismo e a arquitetura, o acesso à cultura, à arte e aos equipamentos de educação formal e não-formal, a temática da juventude e sua relação com a cidade, especificamente em sua interface com a periferia. Outro aspecto importante de nossas discussões têm sido as relações entre processos de subjetivação e as novas configurações do tecido urbano, ou seja, pergunta-se de que modo os jovens, numa cultura de periferia, constituem-se como sujeitos da escola, da comunidade, dos grupos... Pensar os processos de subjetivação em relação à cidade possibilita uma interação do indivíduo com a urbes o que abriria aos sujeitos uma dimensão para além de uma interioridade centrada em si mesma. Quais as possibilidades de redesenhar o tecido urbano para que nela seja possível novas formas de pensar e viver?
Uma das passagens que fará parte de nosso roteiro será a travessia por alguns dos inúmeros becos presentes na Cohab II. Fruto da dinâmica da retração e privatização do espaço público, os becos surgem à medida em que também são levantados muros ao redor dos prédios e casas. Ao passo que as pessoas encerram-se em condomínios, as ruas acabam por se tornar lugares inseguros: a segurança passa para o domínio do privado e a insegurança passa a ser assunto público. A travessia do beco, neste sentido, passa a ser uma experiência marcada pela intencionalidade mas, e sobretudo, uma experiência aberta: apesar do fechamento indicado pelo beco, a experiência que nele é possível é uma experiência aberta ao acontecimento. Isso significa que apesar da previsibilidade de uma tal passagem, o beco, assim como as ruas desconhecidas, se apresentam como aberturas ao inusitado e ao imprevisível.
domingo, 17 de maio de 2009
Usos e abusos
Há diversos usos das vielas e dos becos. Aqui, os signos apontam alguns deles. O curioso é que todo mundo sabe como um beco pode ser usado, porém, desde que esse uso passa a ser registrado na parede com a tinta característica das pixações - o spray - o território passa a ter uma legitimidade que rompe os limítes daquilo que é estabelecido formalmente. A demarcação de territórios é uma demonstração de força.
Manhã de segunda-feira, a caminho da escola.
Uma praça pública. Um banco acorrentado. E talvez uma evidência a mais dos conflitos entre o público e do privado. E o lixo.
Escrituras Infames
Trabalhando a partir do diálogo com autores como Foucault e Walter Benjamin, venho recolhendo esses registros explícitos que formam uma verdadeira constelação de fragmentos. Dispostos em séries, é possível, por meio de um trabalho de composição, propor leituras que evidenciam uma espécie de discurso que eu me arriscaria a chamar de "escritura infames" sobre a pele rígida da periferia. Uma tal escritura poderia ser pensada como a instauração de uma língua menor no interior de uma linguagem - ainda que marginalizada, considerada criminosa - ainda assim ela nos possibilitaria uma leitura das relações de poder presentes no tecido urbano: a análise dos signos possibilita a compreensão de uma fala que se institui nas paredes pixadas como um texto. É possível também pensar as estruturas da sintaxe, os códigos de inteligibilidade e os mecanismos pelos quais essas falas são esquecidas e abafadas.
Cohab II - Em frente à escola Ruth Cabral Troncarelli
No Portão de entrada, já dentro da escola.
Viela de interligação entre uma avenida e uma rua de acesso.